Anniina Nurmi é estilista, formada em Moda pela Universidade de Lahti, em um dos poucos cursos em nível superior oferecidos em seu país, a Finlândia. Em sua vida, ela sempre tentou se manter o mais sustentável possível em suas práticas de consumo e decidiu que deveria estender esta ideia para sua atuação profissional.
Primeiro ela fundou uma loja multimarcas de roupas com diferencial sustentável, e depois, lançou sua própria marca, atuando como estilista de produtos que também tinham a redução de impacto como foco na maior parte dos processos produtivos.
Como estilista, ela selecionava a origem dos tecidos, a forma como eram produzidos, e optava por desenhos e modelagens que pudessem atravessar melhor o tempo e sobreviver às tendências.


Com o tempo, e com a intensificação de suas pesquisas em torno da sustentabilidade, ela fez uma escolha que tem se tornado frequente no cenário dos estilistas contemporâneos: decidiu interromper a produção de roupas.
Como alternativa, passou a pensar sobre novas formas de consumir e vestir roupas e propôs a “Rent in Shop”. A ideia da iniciativa é fazer com que as peças sirvam à mais de uma pessoa e sejam alugadas diretamente das lojas que normalmente venderiam as roupas, como uma forma de economia circular.
Anniina explica que a Rent in Shop “oferece uma plataforma através da qual consumidores podem alugar roupas de alta qualidade diretamente das lojas. Com o pagamento de uma mensalidade, consumidores podem usar uma roupa bela sem o fardo do armazenamento e manutenção – assim trazendo seu armário para uma era de pós-propriedade.”
O caso de Anniina não é único e parece fazer parte de uma tendência cada vez mais comum no mundo. Me incluo dentro deste pacote ao, em 2013, abandonar minha carreira como estilista e passar a me dedicar à pesquisa nessa mesma área que me fascina tanto; a moda.
Naquele momento, como estilista da marca carioca MaraMac, me pareceu que minha contribuição poderia ser mais potente ao unir a pesquisa acadêmica à prática experimental, do que focar nos trabalhos em moda comercial.
Cada profissional, no entanto, tem sua própria justificativa e força motivadora. Nelson Lo, estilista vencedor em 2010 do prêmio Creative Sky Fashion Competition, decidiu dedicar-se à NYCO (New York Creative Odyssey), um projeto educacional com foco em metodologias de pensamento crítico e design.
Em caso similar, Tuomas Laitinen, estilista graduado pela Central Saint Martins em Londres, com vasta experiência em Paris e Helsinki, interrompeu recentemente seu papel como estilista comercial e passou a se dedicar exclusivamente à função de educador e artista contemporâneo.

O que estes exemplos nos dizem é que parece ser o momento de repensarmos o que fazemos como criadores e consumidores de moda; qual o nosso papel, nossa responsabilidade? E inevitavelmente esta reflexão nos leva a uma pergunta essencial: precisamos de mais roupas?
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Julia Valle Noronha é mineira, doutoranda em Design pela Aalto University, da Finlândia, e integrante do grupo de pesquisa local em Fashion and Textile Futures.
Veja mais publicações dela aqui e aqui.
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Crédito foto capa: Brad Feinknopf
Um comentário em “Sobre estilistas e o fim da produção de roupas”