Desde 2011, a cidade de Paraty, litoral do estado do Rio, é palco de um evento cultural muito cativante, que surgiu com o nome de Paraty Eco Fashion. A iniciativa dos institutos Colibri e Rio Moda tem como eixos fundamentais a valorização de saberes e fazeres tradicionais – sejam caiçaras, quilombolas ou indígenas – e a divulgação de projetos de moda que envolvam artesanato, matérias-primas ecologicamente amigáveis e inovação socioambiental.

A edição 2016 acabou de ser realizada, dos dias 12 a 23 de outubro, com sede oficial na Casa de Cultura da cidade, um espaço composto por um ótimo auditório, um café, áreas de exposição e convivência.
Tradicionalmente, o evento conta com apresentações de canto e dança típicas, exposições artísticas, homenagens a figuras folclóricas locais, desfiles de moda a céu aberto, palestras, workshops e feiras criativas – fazendo dos dias em Paraty uma experiência muito significativa.

A partir da edição de 2014, passou a chamar-se “Paraty Eco Festival”, já que a ideia da organização foi desconstruir o foco voltado para a moda, e valorizar outras atividades em expansão, como a mostra de filmes Eco Cine.
Mesmo sendo meu primeiro ano no Paraty, tive a impressão que o segmento fashion diz respeito à maioria dos presentes, já que atividades como a Mostra de Moda e Design Sustentáveis; a fala de nomes pioneiros no tema, como a pesquisadora Lilyan Berlim e a diretora do Instituto E, Nina Braga; e workshops como o de impressão botânica, facilitado pela estilista Flávia Aranha, atraíram em peso esse público específico.

Outros nomes interessantes estiveram no palco do auditório, como o designer e figurinista Dudu Bertholini, que falou sobre suas experiências com comunidades artesãs de renda e crochê; o fundador do coworking Malha, André Carvalhal, que focou sua fala em sensibilizar sobre os impactos da indústria de moda e a busca por propósito; Marcia Kemp, com as bolsas Nannacay, produzidas por indígenas peruanas assistidas, e a designer Heloísa Crocco, que teve o trabalho muito elogiado pelo público.
As marcas Grama Eco, Emi Beachwear e a designer Aline Uberna foram os destaques eleitos pelos jurados da Mostra de Moda e Design Sustentáveis. O pessoal da Grama desenvolveu o modelo verde-musgo exposto com malha de algodão orgânico, reuso de sacos de algodão, organza de seda e tingimento natural. A Emi expôs um de seus maiôs, feito de tecido mais facilmente biodegradável e a equipe de Aline Uberna desenvolveu um novo tecido, proveniente da fibra de pupunha e lã ovina, e utilizou aviamentos de madeira-de-lei de descarte industrial.
Ao longo do evento realizei pequenas entrevistas (que chamo aqui de “drops”), que mostram um pouco do mood que rolou por lá. Segue abaixo a fala da diretora do Instituto Colibri e coordenadora geral do evento, Bernadete Passos:
O painel de conversa “Moda Consciente” foi composto pela Fernanda Nicolini, Mayra Sallie e Lucas Arcoverde, fundadores das marcas Odyssee, MIG Jeans e Mescla. Bati um papo com eles que teve justamente a ver com essa mensagem de cooperação e união que a Bernadete trouxe. Vejam o resultado no vídeo abaixo (só não reparem na disparada louca do meu zoom, nem no barulho do pessoal descendo a rampa de metal da Casa de Cultura, ok!? :D) :
Conversei também com a super Lilyan Berlim, que, como de praxe, estava multi-tarefas no festival, sendo jurada da Mostra de Moda e Design, facilitadora do workshop “Novos Negócios na Moda” e integrante de painel com o movimento Fashion Revolution. No vídeo, a Lilyan dá uma palhinha rápida sobre a Mostra – após uma conversa em áudio super bacana que tivemos, e logo terá um post completo por aqui:
Filmei também alguns integrantes da TENET, rede maravilhosa de artesãos, artistas plásticos e designers têxteis do Brasil todo, que trabalham com técnicas de bordado, tear, impressão botânica, reutilização de trapos e até com corte a laser e impressora 3D. A rede realiza eventos anuais, e para esse ano, elegeram o Paraty como ponto de encontro e local de exposição.
Para completar a sequência de vídeos, conversei com a estilista Flávia Aranha sobre sua primeira participação no festival e um pouco do que falou no painel do evento, sobre os grupos produtivos conectados à sua marca, os trabalhos com algodão rústico e orgânico e suas lindas técnicas de tingimento natural.
Levando em conta que o segmento de moda sustentável está em plena expansão, atraindo o interesse de estudantes, estilistas e consumidores por todo o Brasil e mundo, não há dúvidas que o Paraty tenha muito potencial para ser um reduto “oficial” de encontro dos formadores de opinião dessa área.

A abordagem sobre aspectos folclóricos locais, os documentários socioambientais e demais manifestações culturais típicas, são temáticas incrivelmente ricas e importantes para tecerem a narrativa da moda “profundamente” sustentável. Por outro lado, fico na torcida para que o evento consiga costurar bem todo esse escopo e não perca o fio da meada.
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